Frágeis habitações
Frágeis habitações
De pedaços de madeira, as frágeis habitações
Numa massa irregular de pequenas dimensões
E nas nebulosas vielas sem arruamentos
Apinha-se o ser humano, em busca de aposentos
No local alastra-se um lençol de lama e barro
Entre um casebre e outro, não passa um carro
Triste cidade ! Mundo de favelas irregulares
Para o que busca novos horizontes, agregares !
Assim vivem, qual tribo de nômades andantes
Na dimensão do nada, caminham flutuantes
Na correnteza infausta do infortúnio e medo
Os sonhos tão distantes, da alma são segredo
No mórbido ambiente, o denso ar prolixo
Tem cheiro nauseabundo ascoso e fixo
Tudo ali é esquálido, sórdido, desalinhado
Na sujeição submissa ao porte do coitado
Toda a fiação elétrica, sofre *gatos após gatos
Nas pútridas águas a céu aberto, proliferam ratos
De todas imundícies, dos excrementos fecais
Restos de comida, barro e argila dos aluviais
À noite, no escuro, o silêncio é tenebroso
A soturnidade cheia de mistério escabroso
Paira nas sombras dos becos sujos, imundos
Na calada da noite, gritos de alerta profundos
As frágeis habitações de pedaços de madeira
Inesperadamente viraram enorme fogueira
Em questão de minutos foi dizimada a favela
Uns dizem curto circuito, outros luz de vela
A degeneração da política pública
Não atende o miserável, não ouve a súplica
Tendo levado ao caos inúmeras famílias
Ao inverso das faustosas mansões de Brasília
Assim, o hipossuficiente denegrido à sorte
Busca outro local no absurdo de sofrer
Cata umas madeiras para edificar seu barraco
A matéria vacila, mas o espírito não é fraco
A desigualdade leva a desagregação
Ao social panorama trágico da nação
Tomou conta a violenta criminalidade
Numa espiral de violência sem igual !
Num clima de guerra vive hoje o cidadão
Sai de casa para trabalhar, ganhar o pão
Mas não sabe se volta vivo, eis a questão
Porque a violência, impera no seio da nação !
São Paulo, 24/04/2014 (data da criação)
Armando A. C. Garcia
*desvio de energia; furto
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